Inteligência artificial rouba nossas vozes e gera revolta

BBC
Casal processa plataforma por clonagem de vozes sem autorização
O uso da inteligência artificial (IA) na indústria da dublagem levantou um alerta alarmante: como nossas vozes podem ser usadas sem consentimento e vendidas como produtos, colocando em xeque a integridade dos artistas.
Paul Skye Lehrman e Linnea Sage, profissionais de dublagem, não esperavam que uma simples audiência de podcast sobre o impacto da IA em Hollywood se tornasse um momento de tremenda desconforto. Enquanto escutavam, Paul se deparou com sua própria voz projetada por um chatbot: “Tivemos de estacionar o carro”, compartilha ele, ressaltando a ironia da situação, onde a tecnologia discorria sobre a possível destruição da indústria que ele e sua parceira representam.
Após a chocante descoberta, eles mergulharam em uma busca frenética por respostas e descobriram que a plataforma Lovo havia usado suas vozes sem autorização. Linnea não conseguiu conter a indignação: “Uma empresa de tecnologia roubou as nossas vozes, fez clones com IA e as vendeu, talvez centenas de milhares de vezes”.
O casal decidiu levar o caso à Justiça, afirmando que não consentiram com a gravação feita por meio de um usuário anônimo através do site Fiverr. Este contato fora, supostamente, um estratagema com a intenção de gravar trechos para pesquisa, mas o resultado foi a clonagem de suas vozes, utilizadas para fins que certamente conflitam com a ética e a legalidade.
Na ação judicial, Lehrman e Sage argumentam que a Lovo não apenas violou seus direitos de propriedade intelectual, mas compete de forma ilegítima com suas carreiras profissionais. Eles citam a falta de um contrato formal como evidência de que os termos de uso foram completamente desconsiderados.
O caso levanta questões graves sobre os direitos de personalidade, que protegem indivíduos contra o uso indevido de suas vozes e imagens. A professora Kristelia Garcia, especialista em propriedade intelectual, aponta que o uso não autorizado das gravações compromete não apenas a carreira dos artistas, mas também abre um precedente perigoso que pode acirrar a luta entre tecnologia e direitos de criação.
Sage reflete: “Parece surreal. Ao pensarmos em IA, imaginamos que ela arquivaria nosso material, não que exploraria nosso trabalho criativo”. O avanço da IA segue acelerado, mas será que estamos prontos para defender nossas vozes e nossas histórias?
O caso de Lehrman e Sage é apenas uma das muitas batalhas que artistas enfrentam na era digital, onde a tecnologia ameaça não só seus modos de subsistência, mas a essência do seu trabalho criativo. É vital que todos nós, como sociedade, reflitam sobre como a tecnologia deve servir à humanidade, e não o contrário.